A Psiconeuroimunologia (PNI) no tênis: a disciplina que está revolucionando o esporte

22 de maio, 2021

Entrevistado: Fernando Pérez

Esta abordagem multidisciplinar atua no psicológico e no sistema nervoso e imunológico. Quais são os benefícios para jogadores de alto rendimento e para o mundo amador? Perguntamos a Fernando Pérez, um dos líderes da PNI clínica e osteopatia na América Latina e membro da equipe PNI Europe.

A psiconeuroimunologia (PNI) veio para ficar e sua visão integral abrange aspectos do atleta que muitas vezes não eram levados em consideração por nenhum membro da equipe técnica. Essa disciplina, responsável pela interação entre o psicológico e o sistema nervoso e imunológico permite abordar o trabalho do tenista com um olhar consciente sobre os fatores psicossociais.

“As emoções influenciam as funções de todos os sistemas do corpo: o sistema muscular, o sistema gástrico, o cérebro”, explica Fernando Pérez, osteopata e especialista em PNI no esporte, membro da equipe de TTP.

“A PNI é focada na parte neurológica, por exemplo quando um esportista está em situações estressantes, ou quando precisa se regenerar bem, descansar melhor ou se alimentar da forma correta. Mas também na parte imunológica e endocrinológica, baseada nos eixos hormonais, no eixo das tiroides, no eixo dos hormônios que têm a ver com o movimento, com as posições de estresse, o relaxamento. A PNI permite ver o atleta de todos os pontos de vista, de todos os campos, e com todos os sistemas integrados para obter um melhor desempenho e a melhor dedicação de cada um”, afirma Fernando.

Lidar com o estresse

As pessoas sempre relacionam o estresse a questões de trabalho, mas também pode ser algo totalmente emocional, metabólico ou físico, como por exemplo sobrecarga no treino. Pode também ser imunológico, se o sistema imunológico estiver afetado por uma dieta inadequada, sono insuficiente ou hábitos pouco saudáveis.

Dormir com telas azuis, por exemplo, gera uma ativação de eixos que liberam hormônios que são compensados pela serotonina e pelo triptofano, que são os hormônios de que precisamos para dormir e para regenerar um grande esforço físico após um jogo ou treino. Um profissional da PNI leva esse tipo de coisa em consideração ao examinar o atleta, e a mudança de certos hábitos à primeira vista inofensivos pode dar ótimos resultados.

“Na alta performance, tudo isso deve ser levado em consideração. Tudo é baseado no biorritmo, o momento em que o atleta se alimenta, o momento em que deve descansar, e isso muda entre uma pessoa e outra porque somos todos diferentes. Como o biorritmo é baseado na luz do sol, devemos ficar atentos, por exemplo, às viagens, em que ele muda drasticamente e nosso trabalho é justamente regulá-lo” diz o especialista, e acrescenta: “Buscamos flexibilidade, para que o atleta chegue em um lugar e possa se adaptar da melhor maneira possível, pois nem sempre tem a mesma comida, a mesma forma de dormir, descansar, as mesmas pessoas ao seu redor”.

O trabalho das emoções no tênis

A frustração é um dos sentimentos que mais afetam as pessoas na prática do tênis, por isso é tão importante trabalhar todos os aspectos das diferentes áreas do cérebro. Uma frustração é um padrão molecular vinculado com o estresse, um estresse muito grande e que pode gerar alterações nos sistemas muscular, metabólico e endócrino e que é necessário saber enfrentar, acompanhando o atleta.

Outra das emoções que mais se vê no tênis é a solidão. “Essas coisas são terríveis para o tenista. Somos seres sociais e fomos feitos para estar com os outros. Imagine que um tenista no seu momento de maior dependência, onde precisa do apoio da família, dos treinadores, da equipe, dos amigos, costuma estar sozinho”, afirma o especialista em PNI.

Daniel Altmaier com sua equipe na Roland Garros 2020.

“Tudo isso gera uma mudança, uma ativação de diferentes áreas do cérebro que faz com que você tome decisões de forma totalmente egoísta, e há muitas coisas que, se não são trabalhadas, podem ser muito tóxicas”.

Estratégias de PNI

Do ponto de vista comportamental, a PNI atua principalmente na mudança de hábitos. Por exemplo, em vez de dormir com uma tela azul, dormir fazendo exercícios de respiração. Desde a meditação, exercícios de mindfulness, mudanças na dieta, banhos de contraste com água fria, jejum intermitente ou hidratação intermitente, a PNI ativa áreas do cérebro e do corpo que muitas vezes não são levadas em consideração.

“Às vezes, com alguns atletas, levamos eles ao ponto de ficar com muita sede para depois contrabalançar. Levamos o atleta a diferentes estressores. Na PNI, a gente se baseia em estressores evolutivos: na evolução, os estressores não eram ter que pagar a conta ou ter que chegar ao fim do mês; era a fome, o frio, o calor, a sede e tudo o que se refere às infecções. Trabalhamos nesses componentes e buscamos estratégias físicas para estimulá-los”, diz Fernando.

“Tomar boas decisões na quadra depende 100% dos neurotransmissores, e os neurotransmissores são feitos no intestino. E aí vem o que chamamos de eixo cérebro-intestino: para que você possa tomar boas decisões, você precisa ter dopamina, serotonina, oxitocina, os diferentes hormônios que te ajudam a tomar uma decisão correta e rápida. A PNI mudou todo o paradigma do tênis”, afirma.

Definida como um treino invisível, a PNI nem sempre é clara para quem não a pratica, já que o que cada atleta faz é reservado como uma vantagem esportiva. Um caso bem conhecido foi o de Novak Djokovic, porque quando descobriram seus problemas intestinais ele mudou através da PNI seus hábitos e se tornou o número 1. Hoje, metade dos grandes tenistas mundiais fazem PNI, e a equipe de Tennis Training Pro, é a primeiro a fazê-lo na América Latina.

PNI no tênis amador

“Tenho vários pacientes que não são atletas da elite, mas sim esportistas amadores, jogadores de final de semana e que aos poucos também começam a trabalhar com a PNI. Temos uma frase na PNI que é “all is about energy”, tudo depende da energia, e justamente o que fazemos é melhorar a energia metabólica, a energia física, psíquica, emocional, e trabalhar com a parte de bioquímica, endócrina e imunológica. Trata-se um pouco de conectar todos os eixos”.